Introdução
Há algum tempo, a busca por fontes de energia renováveis vem ganhando destaque no cenário global, e o Brasil, com sua abundante incidência solar, possui um enorme potencial para a geração de energia fotovoltaica. Entre as diversas formas de aproveitamento dessa fonte limpa e sustentável, a microgeração solar se destaca como uma alternativa viável tanto para residências quanto para pequenos negócios. No entanto, a implantação desse sistema em regiões brasileiras que fazem fronteira com outros países apresenta desafios e oportunidades únicas que merecem uma análise mais detalhada.
Neste artigo, analisaremos os principais desafios e oportunidades envolvidos na implementação da microgeração solar nas regiões brasileiras que fazem fronteira com outros países. Exploraremos aspectos como a infraestrutura disponível, incentivos governamentais, barreiras regulatórias e as possíveis vantagens que esse modelo pode trazer para as comunidades locais. Assim como, os desafios, benefícios, casos de sucesso e oportunidades futuras e, sobretudo, a viabilidade e importância da Microgeração Solar em Regiões de Fronteira com o Brasil.
Panorama da Microgeração Solar no Brasil
Impulsionada por incentivos regulatórios, avanços tecnológicos e pela crescente conscientização sobre a importância das fontes renováveis, a modalidade de microgeração distribuída tem contribuído significativamente para a diversificação da matriz energética do país.
O que é Microgeração Distribuída?
A microgeração distribuída refere-se à produção descentralizada de energia elétrica, geralmente a partir de fontes renováveis, como a solar fotovoltaica. Diferente das grandes usinas de geração centralizada, que transmitem eletricidade por longas distâncias, a microgeração permite que consumidores instalem seus próprios sistemas de geração, suprindo parte ou toda a demanda energética de suas residências, empresas ou propriedades rurais.
No Brasil, a microgeração solar é regulamentada pelo modelo de compensação de energia elétrica, no qual o excedente gerado pode ser injetado na rede da distribuidora e convertido em créditos para abatimento na conta de luz. Esse mecanismo, regulamentado inicialmente pela Resolução Normativa nº 482/2012 da ANEEL, tem sido um grande impulsionador do crescimento da energia solar no país.
O Crescimento da Energia Solar no Brasil
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado um avanço expressivo na adoção da energia solar, impulsionado por fatores como a queda nos custos dos equipamentos, aumento da tarifa de eletricidade e incentivos regulatórios. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o país já ultrapassou a marca de mais de 2 milhões de unidades consumidoras utilizando a microgeração solar, consolidando-se como um dos líderes no setor na América Latina.
Além disso, políticas públicas e linhas de financiamento, como as oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições, têm facilitado o acesso à tecnologia fotovoltaica para consumidores residenciais e empresariais. Estados e municípios também têm adotado programas de incentivo, incluindo isenção de ICMS sobre a energia gerada e financiamentos subsidiados para a instalação de painéis solares.
Principais Desafios da Microgeração Solar no Brasil
- Regulação e mudanças nas regras do setor: A implementação da Lei 14.300/2022, que estabelece um novo marco legal para a geração distribuída, trouxe alterações nas regras de compensação de créditos energéticos, o que pode impactar a atratividade do sistema para novos consumidores.
- Alto custo inicial: Apesar da redução no preço dos equipamentos, o investimento inicial na instalação de painéis solares ainda pode ser um obstáculo para muitas famílias e pequenas empresas.
- Infraestrutura de distribuição: Algumas regiões do país, especialmente áreas remotas ou de fronteira, possuem redes elétricas limitadas, o que pode dificultar a conexão de novos sistemas de microgeração.
- Falta de informação e capacitação: Muitos consumidores desconhecem os benefícios da energia solar ou não têm acesso a informações sobre linhas de financiamento e incentivos disponíveis.
Características das Regiões Fronteiriças Brasileiras
O Brasil possui uma extensa faixa de fronteira terrestre, totalizando cerca de 16.886 quilômetros, o que o torna o terceiro país com a maior fronteira do mundo. Essa área abrange 11 estados e faz divisa com 10 países da América do Sul, representando uma região estratégica tanto para o desenvolvimento econômico quanto para a segurança energética. A implantação da microgeração solar nessas localidades pode trazer benefícios significativos, mas também enfrenta desafios específicos relacionados ao clima, infraestrutura e logística.
Os ESTADOS BRASILEIROS que possuem fronteira terrestre com países vizinhos são:
- Acre (AC) – faz divisa com Peru e Bolívia.
- Amapá (AP) – faz divisa com a Guiana Francesa.
- Amazonas (AM) – faz divisa com Venezuela, Colômbia e Peru.
- Mato Grosso (MT) – faz divisa com a Bolívia.
- Mato Grosso do Sul (MS) – faz divisa com Paraguai e Bolívia.
- Pará (PA) – faz divisa com Suriname e Guiana.
- Paraná (PR) – faz divisa com Paraguai e Argentina.
- Rio Grande do Sul (RS) – faz divisa com Argentina e Uruguai.
- Rondônia (RO) – faz divisa com a Bolívia.
- Roraima (RR) – faz divisa com Venezuela e Guiana.
- Santa Catarina (SC) – faz divisa com a Argentina.
Cada uma dessas regiões possui características geográficas e climáticas distintas, que influenciam a viabilidade da geração de energia solar e os desafios para sua implementação.
Condições Climáticas e Incidência Solar nas Regiões Fronteiriças
A incidência solar nas regiões de fronteira brasileira varia conforme a localização geográfica. De maneira geral, o país apresenta um grande potencial solar, com médias de irradiação superiores a 4,5 kWh/m²/dia, o que coloca o Brasil entre os países mais favoráveis para o uso da energia fotovoltaica. No entanto, há variações significativas:
- Regiões Norte e Amazônia (Acre, Amazonas, Roraima, Pará) – Apesar da alta incidência solar, enfrentam desafios devido à elevada umidade, chuvas frequentes e cobertura de nuvens, que podem impactar a eficiência dos painéis solares.
- Centro-Oeste e Sul (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina) – Apresentam boa radiação solar ao longo do ano, mas a variação sazonal pode reduzir a geração em determinados períodos, principalmente no inverno.
- Nordeste e áreas secas do Centro-Oeste – Estados do Nordeste e o estado do Mato Grosso possuem condições extremamente favoráveis para a geração solar, com altos índices de insolação e baixa nebulosidade.
Infraestrutura Elétrica e Desafios Logísticos
Um dos principais obstáculos para a microgeração solar nas regiões de fronteira é a infraestrutura elétrica e logística. Algumas dessas áreas possuem redes elétricas limitadas ou até inexistentes, especialmente em comunidades rurais e indígenas. Entre os principais desafios estão:
- Acesso à rede elétrica – Muitas localidades em regiões de fronteira ainda dependem de sistemas isolados, movidos a diesel, o que aumenta os custos e a dependência de combustíveis fósseis.
- Distância dos centros urbanos – O transporte de equipamentos fotovoltaicos para essas regiões pode ser caro e complexo devido à falta de rodovias pavimentadas e infraestrutura de logística adequada.
- Interconexão com países vizinhos – Em alguns pontos da fronteira, há compartilhamento de redes elétricas com países vizinhos, o que pode demandar acordos bilaterais para a expansão da microgeração solar.
- Segurança e fiscalização – Algumas áreas de fronteira enfrentam desafios relacionados à segurança, o que pode dificultar a implementação de projetos solares e a manutenção dos sistemas instalados.
Benefícios da Microgeração Solar em Áreas de Fronteira
A expansão da microgeração solar nas regiões de fronteira brasileira representa uma oportunidade única para impulsionar o desenvolvimento sustentável e fortalecer a segurança energética dessas áreas. Com a descentralização da produção de eletricidade, comunidades isoladas e cidades fronteiriças podem reduzir sua dependência da rede elétrica tradicional e explorar um modelo mais econômico e ambientalmente responsável. Além disso, a proximidade com países vizinhos abre espaço para parcerias e cooperação energética.
Redução da Dependência da Rede Elétrica Convencional
Muitas localidades em áreas de fronteira enfrentam dificuldades no acesso à eletricidade, seja pela falta de infraestrutura ou pela baixa qualidade da rede disponível. Em algumas dessas regiões, a eletrificação ainda depende de sistemas isolados movidos a diesel, que são caros, poluentes e de difícil logística. A microgeração solar surge como uma alternativa viável, permitindo que consumidores residenciais, comerciais e rurais gerem sua própria energia e reduzam a necessidade de conexão a redes elétricas instáveis ou distantes.
Além disso, ao descentralizar a geração de eletricidade, a microgeração solar diminui as perdas de transmissão, tornando o abastecimento mais eficiente e confiável. Isso beneficia não apenas os consumidores individuais, mas também fortalece o sistema elétrico local, reduzindo apagões e melhorando a estabilidade do fornecimento.
Geração de Energia Limpa e Sustentável
A energia solar é uma das fontes renováveis mais limpas e abundantes disponíveis. Ao optar pela microgeração solar, as regiões fronteiriças reduzem a emissão de gases de efeito estufa, diminuem a dependência de combustíveis fósseis e contribuem para o combate às mudanças climáticas.
Além dos benefícios ambientais, a adoção da energia solar evita os impactos negativos associados à construção de grandes usinas hidrelétricas ou termelétricas, que podem causar desmatamento, deslocamento de comunidades e degradação de ecossistemas. Dessa forma, a microgeração solar se torna uma solução sustentável para atender à crescente demanda energética dessas áreas sem comprometer os recursos naturais.
Potencial de Desenvolvimento Econômico Local – A implementação de sistemas de microgeração solar pode impulsionar a economia local de diversas maneiras:
- Geração de empregos – A instalação e manutenção de painéis solares exigem mão de obra especializada, o que pode fomentar o surgimento de novos negócios e oportunidades de trabalho para técnicos, engenheiros e instaladores.
- Redução de custos para consumidores e empresas – Pequenos negócios, indústrias locais e produtores rurais podem economizar na conta de luz ao gerar sua própria energia, tornando suas operações mais competitivas.
- Estímulo a novas cadeias produtivas – Com o crescimento da demanda por sistemas solares, há um incentivo para a fabricação e comercialização de equipamentos fotovoltaicos dentro das próprias regiões, promovendo a economia circular.
Em áreas rurais e agrícolas, a energia solar também pode ser aplicada para bombeamento de água, irrigação e refrigeração de alimentos, aumentando a produtividade e a qualidade de vida da população.
Possibilidades de Cooperação Energética com Países Vizinhos
As regiões fronteiriças brasileiras possuem grande potencial para o intercâmbio energético com países vizinhos. Em algumas localidades, já existem redes elétricas interconectadas que permitem o compartilhamento de eletricidade entre os países. A microgeração solar pode fortalecer essa integração ao possibilitar o desenvolvimento de sistemas híbridos que combinem a energia fotovoltaica com outras fontes renováveis presentes em cada país.
Além disso, a cooperação energética pode resultar em benefícios como:
- Troca de tecnologia e expertise – O Brasil e seus vizinhos podem compartilhar conhecimento sobre regulamentação, financiamento e instalação de sistemas solares.
- Criação de políticas conjuntas de incentivo – Acordos bilaterais podem facilitar investimentos em energia renovável nas regiões de fronteira.
- Expansão da infraestrutura elétrica – A instalação de sistemas fotovoltaicos pode reduzir a sobrecarga em redes interligadas, tornando o fornecimento mais eficiente para ambos os lados da fronteira.
Desafios e Barreiras na Implantação
Embora a microgeração solar nas regiões de fronteira brasileira apresente inúmeros benefícios, sua implementação ainda enfrenta desafios significativos. Barreiras regulatórias, custos elevados, dificuldades logísticas e questões diplomáticas podem dificultar a expansão dessa tecnologia em áreas estratégicas. A seguir, exploramos os principais obstáculos que precisam ser superados para que a energia solar se torne uma alternativa viável e acessível nessas regiões.
Regulação e Políticas Energéticas nas Regiões de Fronteira
A regulamentação da geração distribuída no Brasil passou por mudanças significativas com a Lei 14.300/2022, que estabeleceu um novo marco para a micro e minigeração de energia. No entanto, as regiões de fronteira possuem características específicas que demandam políticas públicas mais direcionadas.
Um dos principais desafios é a falta de regulamentação específica para sistemas isolados, que ainda dependem de geradores a diesel devido à ausência de conexão com a rede elétrica nacional. Incentivos mais robustos para a instalação de sistemas fotovoltaicos nesses locais poderiam acelerar a transição energética.
Além disso, a interligação com países vizinhos pode gerar conflitos regulatórios. Algumas áreas de fronteira compartilham infraestrutura elétrica com países como Paraguai, Bolívia e Venezuela, o que pode exigir ajustes na legislação para permitir a inserção da microgeração solar nesses sistemas interconectados.
Custos e Acesso a Financiamento
O custo inicial para a instalação de um sistema de microgeração solar ainda é um dos principais entraves para sua popularização, especialmente em regiões economicamente menos desenvolvidas. Mesmo com a redução dos preços dos equipamentos nos últimos anos, a aquisição de painéis solares, inversores e baterias representa um investimento significativo para muitas famílias e pequenos negócios.
Apesar da existência de linhas de financiamento, como as oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e programas estaduais, a burocracia e as taxas de juros podem dificultar o acesso ao crédito. Além disso, em regiões de fronteira, a presença reduzida de instituições financeiras e a falta de conhecimento sobre essas opções de financiamento agravam ainda mais o problema.
Para superar essa barreira, seria fundamental ampliar programas de incentivo governamental, incluindo subsídios, isenções fiscais e condições de financiamento mais acessíveis para consumidores nessas áreas estratégicas.
Logística e Necessidade de Infraestrutura Adequada
As dificuldades logísticas representam um grande desafio para a implementação da microgeração solar nas regiões fronteiriças. Muitos desses locais possuem infraestrutura precária, com estradas de difícil acesso, o que encarece o transporte de equipamentos e dificulta a realização de manutenções.
Além disso, algumas comunidades nessas áreas ainda não estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), dependendo de geradores próprios ou redes elétricas de países vizinhos. Isso torna a instalação de sistemas solares ainda mais complexa, pois pode exigir a implementação de baterias para armazenamento de energia ou a criação de microgrids (pequenas redes locais de distribuição).
Outra barreira é a falta de profissionais qualificados para a instalação e manutenção dos sistemas fotovoltaicos nessas regiões remotas. Sem mão de obra capacitada localmente, os custos de implantação se tornam ainda maiores, uma vez que as empresas precisam enviar técnicos de outras cidades para realizar o serviço.
Possíveis Barreiras Diplomáticas e Acordos Internacionais
A proximidade com outros países pode trazer oportunidades de cooperação energética, mas também desafios diplomáticos. Em algumas regiões, a eletricidade já é compartilhada entre o Brasil e países vizinhos, o que pode exigir negociações para integrar a microgeração solar aos sistemas interconectados.
Entre os principais desafios estão:
- Diferenças regulatórias – Cada país possui regras específicas para a geração e distribuição de energia, o que pode dificultar a adoção de um modelo comum para a microgeração solar.
- Impostos e tarifas sobre equipamentos – A importação de painéis solares e outros componentes pode ser impactada por barreiras tarifárias e restrições alfandegárias entre os países da América do Sul.
- Falta de políticas bilaterais para energias renováveis – A ausência de acordos entre o Brasil e seus vizinhos para a integração de sistemas solares pode limitar a expansão dessa tecnologia em áreas de fronteira.
Para superar essas barreiras, seria necessário um esforço conjunto entre autoridades e empresas do setor energético para estabelecer acordos internacionais que incentivem a instalação e compartilhamento da energia gerada por sistemas solares.
Casos de Sucesso e Modelos Inspiradores
A implantação da microgeração solar em regiões de fronteira já vem sendo testada e aplicada em diversas localidades, tanto no Brasil quanto em países vizinhos. Projetos bem-sucedidos demonstram que a energia solar pode ser uma solução viável para a eletrificação sustentável dessas áreas, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e promovendo o desenvolvimento econômico local.
Exemplos de Projetos de Microgeração Solar em Áreas de Fronteira
Usina Solar Flutuante no Lago de Itaipu (Brasil/Paraguai)
Um dos exemplos mais emblemáticos de energia solar em regiões de fronteira é a usina solar flutuante instalada no reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai. O projeto, iniciado em 2016, utiliza painéis fotovoltaicos sobre a água para gerar eletricidade de forma complementar à energia hidrelétrica. Essa iniciativa demonstra o potencial da integração de diferentes fontes renováveis para garantir maior estabilidade energética em regiões estratégicas.
Energia Solar para Comunidades Isoladas no Amazonas e Acre
Diversas comunidades na Amazônia brasileira, próximas às fronteiras com Peru, Colômbia e Venezuela, vêm adotando a energia solar para suprir suas necessidades energéticas. Um dos destaques é o projeto do Programa Luz para Todos, que, em parceria com ONGs e empresas do setor, implementou sistemas solares em aldeias indígenas e ribeirinhas que antes dependiam exclusivamente de geradores a diesel.
No Acre, por exemplo, algumas propriedades rurais e escolas em áreas de difícil acesso já utilizam a microgeração solar para alimentar sistemas de bombeamento de água e iluminação, reduzindo custos e impactos ambientais.
Projeto Solar na Fronteira Brasil-Uruguai (Santana do Livramento e Rivera)
Nas cidades de Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), que formam uma das chamadas “cidades-gêmeas” na fronteira, iniciativas de microgeração solar estão ganhando espaço. Pequenos e médios empreendedores locais estão investindo em sistemas fotovoltaicos para reduzir os custos operacionais e garantir maior independência energética. Esse modelo pode ser replicado em outras áreas fronteiriças com forte integração econômica entre países.
Iniciativas Governamentais e Privadas
Tanto o setor público quanto o privado têm desempenhado um papel essencial na expansão da microgeração solar nas regiões de fronteira. Algumas iniciativas de destaque incluem:
- Programa Mais Luz para a Amazônia – Lançado pelo governo federal, esse programa busca levar energia renovável para comunidades isoladas na região amazônica, incluindo áreas de fronteira. A proposta prevê o uso de sistemas fotovoltaicos autônomos, eliminando a dependência de combustíveis fósseis.
- Parcerias público-privadas (PPPs) – Empresas de energia, como a Eletrobras e distribuidoras locais, têm investido em projetos de energia solar com apoio de incentivos fiscais e financiamento do BNDES.
- Iniciativas privadas e cooperativas – Em algumas regiões, pequenos produtores rurais e associações comunitárias têm adotado modelos de cooperativas solares, permitindo que diferentes consumidores compartilhem a geração de um mesmo sistema fotovoltaico. Esse modelo tem sido explorado em estados como Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Experiências de Países Vizinhos com Energia Solar
Os países sul-americanos também estão avançando na adoção da energia solar, oferecendo exemplos valiosos para o Brasil.
- Argentina – O país tem investido fortemente em usinas solares na região norte, como o Parque Solar Cauchari, localizado na província de Jujuy, próximo à fronteira com Bolívia e Chile. Esse projeto tem servido de referência para iniciativas em áreas remotas.
- Chile – Considerado um dos líderes na transição energética na América do Sul, o Chile possui grande potencial solar no deserto do Atacama. Projetos como a Planta Solar El Romero mostram como é possível expandir a energia fotovoltaica mesmo em regiões áridas e de difícil acesso.
- Paraguai – Embora o Paraguai dependa majoritariamente da energia hidrelétrica de Itaipu, iniciativas para a diversificação da matriz energética incluem a implementação de sistemas solares em pequenas comunidades e centros urbanos, especialmente nas áreas de fronteira com o Brasil.
Futuro e Oportunidades
O avanço da microgeração solar nas regiões de fronteira brasileiras apresenta um cenário promissor, impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico, por políticas públicas em evolução e pelo crescente engajamento das comunidades locais. Nos próximos anos, espera-se que novas soluções tornem a energia solar ainda mais acessível, eficiente e sustentável.
Tendências Tecnológicas para a Microgeração Solar
A rápida evolução da tecnologia fotovoltaica tem permitido o aumento da eficiência e a redução dos custos dos sistemas solares. Algumas das principais inovações que devem impulsionar a microgeração solar em áreas de fronteira incluem:
- Painéis solares de alta eficiência – O desenvolvimento de células fotovoltaicas mais avançadas, como as de perovskita e tandem, promete elevar a eficiência energética, permitindo maior geração de eletricidade em espaços reduzidos.
- Armazenamento de energia com baterias avançadas – O aprimoramento das baterias de íons de lítio e o desenvolvimento de novas tecnologias, como baterias de estado sólido, permitirão um melhor armazenamento da energia solar gerada durante o dia, garantindo eletricidade contínua mesmo à noite ou em dias nublados.
- Microgrids e sistemas descentralizados – As redes elétricas inteligentes (smart grids) e os microgrids permitirão maior autonomia para comunidades isoladas, facilitando o gerenciamento do fornecimento de energia entre diferentes consumidores e produtores locais.
- Placas solares bifaciais e flutuantes – Os painéis bifaciais, que captam luz dos dois lados, e as usinas solares flutuantes, instaladas sobre reservatórios, poderão ser soluções viáveis para otimizar o uso da energia solar em áreas estratégicas de fronteira.
Essas inovações tornarão a microgeração solar ainda mais acessível e eficiente, especialmente para comunidades remotas que enfrentam desafios logísticos e infraestrutura precária.
Possíveis Incentivos Governamentais para Expansão em Áreas de Fronteira
O papel do governo será fundamental para ampliar o alcance da energia solar nas regiões fronteiriças. Algumas iniciativas que podem impulsionar essa expansão incluem:
- Expansão de subsídios e linhas de financiamento – O governo federal e os estados podem ampliar incentivos fiscais, linhas de crédito acessíveis e programas de financiamento específicos para a instalação de sistemas solares em áreas de fronteira.
- Incentivos para cooperativas solares – Políticas que facilitem a formação de cooperativas de geração distribuída permitirão que pequenos produtores e comunidades compartilhem investimentos e benefícios da microgeração solar.
- Regulação para integração energética entre países – Ajustes nas políticas regulatórias podem facilitar a integração da energia solar com sistemas elétricos de países vizinhos, promovendo o intercâmbio energético e ampliando a segurança do abastecimento.
- Iniciativas de eletrificação rural sustentável – Programas como o Mais Luz para a Amazônia podem ser expandidos para incluir mais localidades em regiões fronteiriças, garantindo acesso universal à energia limpa.
O Papel das Comunidades e das Cooperativas de Energia Renovável
As comunidades locais desempenham um papel crucial na transição para a energia solar, especialmente por meio da organização em cooperativas e associações comunitárias. As cooperativas de energia renovável permitem que moradores, pequenos produtores e empresários compartilhem investimentos em infraestrutura solar, reduzindo custos individuais e aumentando o impacto positivo da geração distribuída. Algumas das vantagens deste modelo incluem:
- Redução dos custos de instalação e manutenção – Ao adquirir equipamentos coletivamente, os membros da cooperativa podem negociar preços mais baixos e dividir despesas de operação.
- Maior autonomia energética – As comunidades podem reduzir sua dependência da rede elétrica convencional e garantir um suprimento estável de eletricidade.
- Incentivo ao desenvolvimento local – Com o fortalecimento das cooperativas, cria-se um mercado interno para a capacitação de mão de obra especializada em energia solar, estimulando a economia regional.
Exemplos bem-sucedidos desse modelo já existem em países como Alemanha e Dinamarca, e têm ganhado espaço no Brasil, especialmente em áreas rurais. A adoção desse formato em regiões de fronteira pode ser um caminho eficiente para acelerar a transição energética e ampliar os benefícios da microgeração solar para um número maior de pessoas.
Em perspectiva a microgeração solar tem um enorme potencial para transformar as regiões de fronteira brasileira, proporcionando maior segurança energética, redução de custos e benefícios ambientais. No entanto, a implementação dessa tecnologia ainda enfrenta desafios regulatórios, financeiros, logísticos e diplomáticos que precisam ser superados.
A transição energética é um caminho sem volta, e a microgeração solar tem tudo para desempenhar um papel estratégico no fortalecimento dessas regiões. Investir em energia solar em áreas de fronteira não é apenas uma solução técnica viável, mas uma decisão que pode garantir um futuro mais sustentável, integrado e próspero para o Brasil e seus vizinhos, um pilar essencial para o desenvolvimento sustentável na América do Sul. Dessa forma, é possível considerar que a adoção da energia solar em áreas de fronteira, pode não apenas transformar a realidade energética dessas regiões, mas também promover maior cooperação entre países vizinhos.